quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Escrito a 20.12.2009.. Jared

Com a expressão dura do seu rosto á minha frente optei por observar as árvores a abanarem-se com o vento enquanto sentia a chuva a ensopar-me o bonito vestido branco. O seu cabelo curto e escadeado deixava que pequenas gotas de chuva escorressem sobre o seu oprimido rosto, o seu olhar fitava única e exclusivamente o chão e eu deixei-me esperar e analisa-lo.

Nada.

Absolutamente nada ele me dizia. Começava a ficar impaciente, com frio e com medo. Sem uma única explicação lógica, eu estava aterrada. Repeti mentalmente que aquilo era um sonho, era o meu inconsciente a mandar em mim enquanto o meu corpo se limitava a descansar mal.

Por um breve instante deparei comigo a serrar os dentes; as gengivas já me doíam e o maxilar estava prestes a dar sinal de si.

De súbito e acompanhados pela chuva e pelo vento, a sua mão apertou a minha com bastante firmeza levando-me a trás das suas passadas na direcção do carro.

Já sentados, no quente e confortável carro cinzento, deparei-me com um doce e agradável cheiro a limão. Acabava por estar sempre a vontade dentro do carro, mesmo não havendo explicação para tal facto.

De súbito cansei-me de o observar, limitei-me a virar o rosto na direcção oposta e fitei tudo o que se encontrava ao meu redor.

- Sei que te pode soar diferente do que aquilo que pretendo… - Deixando um clima mais do que misterioso; curiosidade; esperou a minha reacção há sua voz. – Vou partir, o mais provável, sendo justo ou não, é que estes sonhos deixem de existir. Olha para mim. Diz-me se acreditas mesmo em mim?

Não conseguia responder. Sentia que se falasse a minha voz ia dar sinal de fraqueza; ia gaguejar, tornar o meu medo visível.

Afirmei abanando a cabeça e desviando o olhar.

- Quero que me esqueças! – Limitou-se a observar-me. Não! Não era justo para mim, para ele, para ninguém que estivesse envolvido numa situação destas! Eu amo-o tanto! Só queria que ele tivesse a mesma noção que eu! Que ele conseguisse ver da mesma perspectiva, que sonhasse tão alto quanto eu. Que no fundo… tivesse a mesma esperança que eu.

Senti um grave zumbido nos ouvidos; a minha cabeça latejou mais e mais conforme as suas palavras e o meu corpo nem sinal deu.

- Não o faças! – Disse-lhe num tom sereno e fitando algo que a minha atenção não revelou. – Não me esqueças! Por mais que me dou-a o quanto te vai doer a ti, eu vou ser egoísta. Não quero que me esqueças, porque sei que inconscientemente, tu vais estar sempre no meu pensamento e vais sempre ser o meu grande amor.

A nossa conversa era um tanto ou quanto calma demais, em relação a maneira de como eu me sentia por dentro.

Acenou negativamente ao meu olhar e depois ergueu um dos cantos do lábio e deixou de me fitar.

Depressa ele desencadeara de dentro de mim um forte nervosismo, uma desculpa para descarregar sobre ele a minha frustração.

- Pára! Chega! Sê sincero, deixa de esconder, de falar pouco ou de não seres claro para comigo! Se realmente isto e verdade, abre o jogo!

Seu rosto estava sereno ao contrário do tom da minha voz. Fechou os olhos e de dentro de si a calma notara-se visível e a sua voz trespassou-me a alma, como uma melodia viciante para os meus ouvidos:

- Da primeira vez que te vi, foi a primeira vez que me senti um fantasma a assombrar a vida de alguém. Por um lado sei que não me vês assim, aliás, até sei que não me vês de todo algum assim. Mas é o que sinto. Parece que te estrago um bom bocado da vida; que te tiro a juventude que tu tens. Noite para noite, eu sinto que não haverá mais nada do que o que aqui temos. Portanto tentei, fiz um esforço para voltar todos os dias para aqui, mas já não consigo. É egoísta, eu sei! Mas já não existe forca alguma que combata este modo de vida, eu gosto tanto de ti que iria quebrar a regra principal mas de nada me valia esse esforço pois, a “magia”, eu e tu, a iríamos perder…

- Mas tu podes fazê-lo! Quem disse que não podes? Fá-lo. Desde que saiba que tu respiras e que tu ficas bem. – Não! Não é nada disto que te quero dizer! Fica comigo! Desvenda! Quebra as regras! Sê melhor que eu!

- Meu amor… - Quando os nossos olhares se cruzaram, o meu corpo tremeu. Os seus olhos estavam inundados de água salgada e pela primeira vez não consegui sentir absolutamente nada. – Não te vou pedir para me amares, pois sei que tu já o fazes; ate quando acordas. Só sei que te amo e que vou fazer o esforço para te descobrir. Só espero…

Deixei que a sua frase ficasse suspensa, pois sabia que ele estava errado. Eu acreditava nele, mais do que qualquer pessoa.

A chuva batia com forca no vidro e eu limitei-me a aclarear a voz:

- Gosto mais de ti do que aquilo que imaginas… - Deixei que o som da chuva se fizesse sentir e de um segundo para o outro os meus lábios encontravam-se a mover no mesmo sentido que os dele. A minha mão agarrou fortemente o seu pescoço e a minha respiração estava tão ofegante que conseguia sentir o bater acelerado do meu coração. As lágrimas deslizaram pelo meu rosto consumindo cada milímetro da pele. O meu corpo estava a tremer do frio que eu não conseguia sentir. O medo, a tristeza e a vontade de nunca partir precipitaram-se sobre a minha cabeça, fazendo-me perdurar aquele beijo e abrindo uma fenda no meu pensamento.

Num súbito suspiro, quando dei por mim, estávamos ambos com os corpos unidos numa intensidade de amor bastante elevada. Os vidros estavam embaciados, as nossas respirações demonstravam a nossa exaltação e todas as nossas forcas iam direccionadas para o corpo um do outro. No meu pensamento já nada cabia; não ali, não naquele momento.

Deixei-me ser consumida como se não houvesse o dia do amanha com a presença dele. Consumi-o sem nunca me deixar parar.

.

Sem comentários: