quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pequena, grande desilusão


Era uma criança pequena, frágil por dentro e com a aparência forte. Algo lhe acontecera em pequena, algo tão monstruoso para a sua vida que a tornaria aos olhos dos outros forte, mas tão fraca por dentro, tão fraca que ela própria se magoava com a mais pequena palavra brusca provinda dos outros. Tinha medo, muito medo de ser abandonada e de ser criticada e era o que mais lhe acontecia. Tinha tantos medos que acabara por ser quem ela nunca quis ser e nunca quis ver. Cresceu, é agora adolescente mas o medo, a pouco auto-confiança e a fraqueza arrebatam-na constantemente. Para todos ela é elegante, confiante, vaidosa e segura de si mesma mas, para ela própria, não passa de um ser desprezível que todos usam e abusam e que todos a condenam por mais o pequeno acto. Será um erro dela? Será algo que nem ela mesma poderá controlar? Não sei, nem mesmo ela sabe. Mas será que algum dia ela se virá livre destes receios? Destes medos aterradores? Tenho medo por ela, medo por a ver e por a sentir dentro de mim e a cada segundo que me deparo com a sua verdadeira personalidade uma vontade imensa de fugir de mim mesma invade todo o meu ser acabando por me deixar arrebatada e louca de sonhos e loucuras.

Chuva de verão

Encontrava-me sentada num banco de jardim. Ouvia os pássaros cantar juntamente com alguns grilos e concentrava-me na música que me fazia relembrar-te. Observei inúmeros casais que por ali passavam. Imensos sorriam e outros limitavam-se a mostrar o amor que sentem um pelo outro. Voltei a relembrar-te. Seriamos nós assim? Não sei. Tentei apaziguar a minha paixão por ti, mas quanto mais envelheço e mais tempo passa após a tua morte mais me apaixono pelo homem que fostes. Imensas saudades me consomem mas tento afagá-las com recordações das nossas imensas noites de amor e de paixão e torno a apaixonar-me por ti. Eras um homem sensato, apaziguador e muito forte espiritualmente, eras o meu ídolo e ainda és. Lembras-te de quando éramos moços e fugimos á noite para namorarmos? Dizias-me coisas tão belas que me deixavas ardente de desejo pelo nosso futuro. E como esse futuro fora bom e feliz! E lembras-te quando passeávamos pelo jardim, pouco antes de nos casarmos, e dizias que cada flor, por mais bela que fosse, nunca se comparava á tremenda beleza que eu era para os teus olhos. Também me recordo que mesmo com as maiores dificuldades tu amaste-me e eu amei-te. Fomos felizes mesmo com o pouco que a vida nos dava, nós fomos felizes. Tenho saudades de me deitar á noite e te ver a dormir calmamente. Muitas saudades que nem uma chuva de verão poderá levar como te levara de mim.