quinta-feira, 4 de agosto de 2011

But I love you...


- Sabes que estas sempre a ouvir aquilo que a tua mente não consegue suportar. Então porque continuas a ficar? Sentes-te assim tão fraca? – Disse-me a rapariga de cabelo castanho escuro e encaracolado.
Os meus olhos observaram-na sem deixar que ela notasse. Todo o meu desejo era enorme. A praia percorria o fundo daquela bela imagem que eu queria guardar para sempre. Escutei o som do mar.
- Amo-te. – Disse-lhe sem deixar que o meu medo de admitir a mim mesma que gostava de uma pessoa que era do mesmo sexo que eu, me transtorna-se.
Os seus olhos castanhos-escuros percorreram os meus, sua mão pegou firmemente na minha e os seus lábios intensamente carnudos conseguiram suportar o desejo dos meus.
De súbito a sua língua para de percorrer a minha boca, as suas mãos largaram o meu peito a minha anca; sua cara afastou-se sem me avisar. Fiquei petrificada. Sabia que ela me ia deixar, agora que me entreguei por completo aquela mulher.
Entrei em pânico. Subi e desci paredes na minha mente, recorri a pensamentos inoportunos, estraguei desejos e lembrei-me que afinal, tanto ela como eu sabíamos que eu não era mulher para ela.
- Vou sentir a tua falta! O teu corpo e um vicio para mim, a tua presença acalma-me. – Disse sorrindo-me, após um tempo de espera a olhar para mim.
- Como te acalmo, se durante todo este tempo menti-te e menti a mim mesma e não deixei que tu lutasses por mim? – Disse-lhe revoltada, já com o tom agudo na minha voz. – Eu usei-te para sexo, para puro divertimento. Diz-me! Não te sentes revoltada comigo? Ao menos se estas tão impávida e serena, fica não te vás embora. Se já nada há para te magoares… - Sentia a fúria percorrer-me cada milímetro da minha veia; preenchendo-me a alma e desocupando todo o amor que havia dentro do meu peito.
- Tu ainda és uma menina, uma menina grande que teve de crescer rápido; que nunca soube o que e ser criança. Tens de te deixar curtir a vida, ser tu mesma e não ligares a nada de que outros te possam dizer ou mesmo julgar. Tu sabes que nada pode fazer com que eu fique. Não vamos amar-nos a distância, não vamos ter saudades constantes uma da outra. Vamos Divertir-nos com outras pessoas e um dia, quem sabe eu volto a reencontrar-te e tu, nesse dia, já terás sido criança, mulher, adolescente e ambas já teremos sido as mulheres de outras e nesse dia eu vou ser a primeira a amar-te.
Não acreditava no que ouvia! Era absurdo! Ela estava a deixar-me para eu ser mais criança?
- Isso tudo para eu ser criança? Não percebo… - Disse-lhe.
- Não acredito em ti, quando te ris e dizes que em criança fizeste isto ou aquilo. A maneira como tu me contas-te certas coisas, notou-se que tu nunca foste criança, inocente e sem saber o que era a maldade. – Tânia limitava-se a levantar-se dos bancos de pele que aquele café tinha. A mesa era no meio deste, e nos encontrávamo-nos acompanhadas única e exclusivamente pelo barman que se tinha o velho hábito de todos os jovens homens, de olhar para mulheres que não eram para ele. Como nos divertimos esse verão, bebidas pagas por ele e olhinhos que só serviam única e exclusivamente uma para outra.
- Tu não me amas, não mintas. Tu ainda hás-de sempre acabar pr amar um homem. Esta escrito na tua mão. – Ficando de pé ao meu lado, agarrou-me na minha mão direita. – Ele tem a pele clara, e muito inteligente e tu tas destinada a ele.
Sim, Tânia lia o futuro nas mãos das pessoas. Aprendeu com a avo que era cigana.
- Mas e tu? O que vai ser de nos? Eu juro que te desejo. Sim, o “ amo-te” fora simplesmente uma tentativa de persuasão, mas posso dizer que gosto de ti e que me vejo contigo.
Ela sorriu. Não com pena, não triste, mas sim carinhosamente. Como se entendesse aquilo porque passo.
- Não vamos mudar o destino. Não quero estragar a tua felicidade. Vamos deixar as coisas passarem. Nos não fomos feitas uma para outra. Ou se calhar simplesmente fomos feitas para descobrirmos uma faceta nossa…- Interrompi-a.
- Ou então, somos a alma gémea uma da outra. E nunca vais ser realmente feliz sem mim. – Fui rude, desci a nível baixo. Mas eu tinha de a demover da ideia de se ir embora e não deixar contacto ou de simplesmente desistir de mim.
- Realmente… - O timbre da voz dela comecara por falhar. – Rea….mente. Tens. Razao. – Gaguejou e quando reparei no seu lindo rosto feminino e de pele queimada, as lágrimas escorriam-lhe abundantemente.
-Tania…
Abracei-a e de súbito, seu corpo moveu-se para longe de mim e eu ouvi-a dizer:
-Mas eu amo-te…

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